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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Resumo do livro: O museu e a vida de DanieleGiraudy e Henri Boulhet, Ed. UFMG, 1990

Georges-Henri Riviere, primeiro diretor do Conselho Internacional dos Museus, define o museu como “uma instituição a serviço da sociedade que adquire, conserva, comunica e expõe com a finalidade de aumentar o saber, salvaguardar e desenvolver o patrimônio, a educação e a cultura, bens representativos da natureza e do homem”.
O museu é um serviço público a serviço do público.
A transformação radical dos museus, ao longo dos últimos quinze anos, deveria também acarretar a dos seus visitantes e do pessoal científico que nele trabalha, reúne, conserva e expõe as coleções destinadas ao estudo, deleite ou educação.
Existem, na verdade, vários tipos de museus: museus de história natural, palácio da descoberta, museus de ciências, jardins zoológicos, instituições que conservam indumentárias, máquinas, fósseis, esqueletos, plantas, instrumentos agrícolas, insetos, aviões, tecidos, faianças e conchas, e até experiências mecânicas ou atividades artesanais. Há, também, os museus de artes populares e os museus ao ar livre, que expõem, em seu contexto natural, residências ou propriedades rurais.
O museu é a casa dos objetos dos homens, fabricados ontem, hoje, aqui ou alhures. Nele, Tempo e Espaços são abolidos. Na idade do efêmero e do consumismo, o museu conserva para amanhã. Aí residem sua singularidade, seu papel e seu objetivo. Mas essas insubstituíveis coleções de objetos originais bi ou tridimensionais são tão inúteis ao visitante quanto um livro nas mãos de um analfabeto, se não forem expostas de modo a serem compreendidas ou amadas.
Assim como é necessário saber escrever de forma clara para os leitores, as palavras se ordenando em frases, da mesma forma os objetos de museu devem articular-se uns aos outros e adquiri sentido no espaço das salas que são percorridas como se folheia as páginas de um livro, o livro da criação humana.
O museu surge a partir da coleção, seja ela de origem religiosa ou profana. Desde a Idade da Pedra, o homem pré-histórico reúne ao redor de si objetos agrupados em determinada ordem, desvio do instituto de posse.
Acumulação gratuita de objetos variados ou idênticos, o gosto de colecionar caracteriza tanto determinados animais quanto a maioria das crianças cuja mania de colecionar se desenvolve na idade da razão à adolescência, justificada pela necessidade de classificar o mundo exterior, compensando, por vezes, um vazio afetivo ou um sentimento de insegurança.
A coleção é compensadora, também, para numerosos colecionadores. A coleção faz crescer, protege-os e valoriza-os, é também um meio de afirmação social ou sobrevivência.
Com o Renascimento, os humanistas e os grandes deste mundo reúnem coleções profanas para as quais, pela primeira vez, consituir-se-á um invólucro. Organizadas em pequenos espaços privados, destinam-se ao estudo, meditação ou contemplação.
os gabinetes de curiosidade, ou câmaras de maravilhas, reúnem animais, objetos ou obras raras, fabulosas ou insólitas, em um bricabraque no qual impera o amontoamento.
Um outro tipo de espaço destinado à exposições são as galerias.
As galerias de aparato, encomendadas pelos monarcas, príncipes e papas para suas residências, destinavam-se especialmente, pela justaposição de obras excepcionais, ao desdobramento de seus visitantes. A galeria apresenta-se geralmente como uma sala muito longa, com numerosas arcadas ou janelas de um lado pelas quais penetra a luz que ilumina a parede oposta destinada às pinturas dos maiores artistas da Europa. Os preciosos pisos de pedra ou de madeira marchetados recebem dispostas em pedestais alinhados, esculturas antigas de mármore ou de pedra.
Os museus de história surgem com as galerias iconográficas dos castelos, expõem, para a educação dos visitantes, retratos dos generais ilustres, filósofos, sábios e artistas que iluminaram as grandes fases da história do pensamento, como as igrejas medievais, através de seus afrescos e das esculturas do pórtico, explicavam aos fiéis o Antigo e o Novo Testamento.
No final do século XVII, com as conquistas da Revolução e do desenvolvimento dos nacionalismos, brota a idéia de que tais riquezas não são propriedade única dos poderosos, pertencendo doravante aos povos. Passa-se da noção de coleção à de patrimônio.
Torna-se, então, necessário classificar os acervos e organizar de modo mais sistemático o espaço do museu: a galeria de antiguidades torna-se museu arqueológico. Os objetos são reunidos, ordenados, não se misturam mais as antiguidades pré-colombianas, egípcias, gregas à pré-história e à arte asiática. A arte gótica da Idade Média é diferenciada da arte do Renascimento nas salas consagradas às belas-artes.
Todos os vastos complexos de museus das grandes capitais européias já estão constituídos no início do século XIX: de Paris com o Museu do Louvre a São Petesburgo, onde é aberto o último grande museu do século XIX, o Novo-Ermitage.
Mas constitui inovação do século XX a criação americana dos parques nacionais, assim como, nos países nórdicos, a dos principais museus ao ar livre consagrados à etnologia regional, diante da decadência, em plena época industrial, do folclore, da arte popular e das tradições que anteriormente não tinham direito de cidadania.
Em outra área, a das ciências exatas e tecnologia, um dos mais interessantes exemplos, é o Munque, o Detsches Museum. Quanto às conquistas espaciais, aparecem os planetários, instrumentos grandiosos de explicação do Cosmos.
A herança cultural dos povos, a educação científica das massas, o desenvolvimento da cultura e sua democratização, a ecologia do homem e da natureza presidem à fundação de um número cada vez maior de museus organizados cientificamente em prédios mais diversificados, que começam a preparar serviços anexos que facilitam o acesso do grande público: salas de reunião, recepção, estudo, descanso, serviços educativos, serviços de empréstimos, salas reservadas especialmente a determinada categoria de público: pesquisadores, grupos, crianças, deficientes físicos.
Mostrando suas obras-primas em conventos abandonados enquanto assiste à missa no Palácio dos Esportes, a sociedade contemporânea abandona, nesses últimos vinte anos, as referências sacralizadas do museu-templo, preferindo-lhe o museu-fórum, as confrontações de nossas diferenças mútuas, e inventando, mediante arquitetos interpostos, seus novos espaços culturais.
Numeroso museus atualmente apresentam-se como parques, onde natureza e pavilhões se interpenetram.
Após ter sido coleção de prestígio pessoal ou político, instrumento de educação e cultura, local de conservação do patrimônio nacional ou regional, o museu torna-se hoje o lugar de expressão da sociedade e, colocando-se finalmente a seu serviço, passa a expressá-la.
A galeria de vizinhança e o ecomuseu são as novas formas e as mais recentes opções dessa instituição em plena mutação que finalmente se transforma em serviço público.
Nas galerias de vizinhança o trabalho científico dos técnicos dos museus é completado pela participação de uma comunidade de habitantes que reúne crianças, estudantes, operários, famílias, minorias, grupos e associações profissionais trabalhando junto aos animadores da galeria sobre temas escolhidos pelo grupo, que reflete, se documenta, se exprime participando das ações coletivas dessa nova instituição.
O ecomuseu, inventado por Hugues de Varine e Georges-Henri Rivieri, constituiu um progresso suplementar. No mesmo espírito, representa um passo à frente, integrando não somente os habitantes, visitantes transformados em atores, participando da vida do museu, mas também a ecologia da região rural ou industrial circundante, marcando, assim, uma etapa fundamental em relação ao museu ao ar livre do século passado.
Um ecomseu é um espelho no qual a população olha para si mesma para reconhecer-se, procura explicação para o território ao qual está ligada, juntamente com a das populações que a precederam na descontinuidade ou na continuidade das gerações. Um espelho que essa mesma população estende a seu hospedes, para fazer-se melhor entender no seu trabalho, seu comportamentos, sua intimidade.
Ao longo dessa série de progressos, o museu não é mais unicamente um centro de documentação e de pesquisa que reúne coleções propostas ao olhar. Integrando o destinatário de sua ação, o público, passa-lhe enfim a palavra, tornando-se também o local que lhe possibilita expressar-se. Chegou o tempo, com essa mutação, de nos conscientizarmos do fato de que as coleções constituem um patrimônio público, que deve ser acessível sem cansaço ou preços excessivos, em horários adequados.
O elo ativo entre o visitante e o objeto transforma-se, por vezes, em retorno às fontes nos museus abertos, que são os parques nacionais, museus ao ar livre onde a natureza, a fauna e a flora, o habitat tradicional e os costumes quase esquecidos passam a reviver.
Os acasos da fortuna estão em freqüência na origem do patrimônio cultural de uma nação, ou de uma cidade, por vezes reunido ao longo dos séculos de maneira bastante diversa, doações, coletas, expedições científicas, campanhas de compras sucessivas, e, até mesmo, campanhas militares.
Há alguns anos, os museus se conscientizaram da necessidade de adotar uma política de aquisição coerente e ordenar suas coleções não mais em função do gosto de determinado responsável, ou da raridade e preço de determinada obra, mas a partir de critérios científicas ou das necessidades de seu público.
A identificação precisa dos objetos constitui a segunda faze da tarefa científica do conservador de museus.
Examinado, etiquetado, numerado, fotografado, recuperado e restaurado, o objeto é submetido a uma minuciosa pesquisa documental, histórica, econográfica, posteriormente reunida em um catálogo.
A atividade essencial do museu, após a aquisição e constituição de seu acervo, sua linguagem própria e a finalidade de sua ação, é a exposição dos objetos pelos quais é permanentemente responsável ou dos que toma emprestado para figurar em eventuais exposições temporárias, com o objetivo de criar um contato direto entre o acervo e os visitantes, quer se trate de uma pintura abstrata, um fóssil, um inseto ou um motor de explosão.
As exposições itinerantes: um museu digno desse nome significa, também, com freqüência, um trabalho extramuros. As obras, encaixotadas, podem, durante um circuito de cidade em cidade, ser expostas em outros locais, atingindo um público mais amplo longe do museu, e, nesse caso, é a própria exposição que deve ser pré-embalada, que dizer as obras, os painéis explicativos, as etiquetas, os expositores, os mapas, bem como a documentação.
Uma vez dispostas as obras nas paredes, em painéis e vitrines ou sobre pedestais, etiquetadas com esmero, bem documentadas, organizadas em um circuito coerente, muito ainda resta a ser feito para que as condições ambientais da exposição sejam satisfatórias.
O clima do museu deve ser constante e preservar uma porcentagem equilibrada entre a umidade do ar ambiente, cujo abuso pode provocar mofo, e o calor excessivo que resseca, a luminosidade do sol que queima as cores.
Essa relação calor/umidade é chamada umidade relativa, e suas normas dependem do clima do país considerado e da natureza das obras.
O Conselho Internacional dos Museus – ICOM, emanação da UNESCO, com sede em Paris, congrega através do mundo o pessoal científico dos museus e dá andamento ao estudo da evolução da profissão museal, definindo o museu como uma instituição a serviço da sociedade.
Em um número cada vez maior de países da Europa, Ásia, Américas do Norte e do Sul, ou África, a formação profissional dos jovens museólogos torna-se cada vez mais científica, seja nas universidades, seja nos próprios museus.
Historiador especializado em arte, ciências naturais ou humanas, tecnologia, pedagogia, o diretor de museu deve ser capaz, mediante suas próprias pesquisas, de formar e estudar as coleções sob sua responsabilidade, quer se trate de obras de arte, cogumelos, fósseis ou máquinas. Enquanto conservador cuida, juntamente com o restaurador, da saúde das aquisições tombadas nas melhores condições (clima, temperatura, luz, poeira, segurança contra roubos, incêndios). Enquanto museógrafo, expõe, em um espaço coleções fundamentais que se destinam a um público mais amplo.
A cultura através do museu não é um luxo, mas uma necessidade; pode voltar a ser, diante da degradação qualidade de vida na passividade dos usuários, uma maneira de aprender, comunicar e ser, melhorado a qualidade de vida. Distancia-se, portanto, o tempo em que a coleção era constituída para o prestígio de um príncipe ou de uma cidade, para deleite de um número reduzido de pessoas e começa a época onde o museu, inserido em uma política cultural de educação, torna-se o ponto de encontro privilegiado do patrimônio e da sociedade, ao mesmo tempo que uma janela para o mundo, reflexo de um meio ambiente social, cultural e humano.
Por mais belas e completas que sejam as coleções, por mais adaptado que seja o prédio, a diferença entre o bom e um mau museu é freqüentemente devida, no fim das contas, à qualidade humana da pessoa que o dirige e o orienta, à sua capacidade de estimular e coordenar sua equipe e deixar passar esse influxo para o público. Entusiasmo, confiança, rigor, desprendimento, abertura de espírito, sentido prático são tão importantes quanto títulos ou diplomas, as dimensões do prédio e a qualidade de seus escritos.
O público conjunto de pessoas que lêem, vêem, escultam as obas conforme a definição do dicionário, é formado no museu por indivíduos de toda espécie, curiosos, turistas ou amadores, e grupos organizados, profissionais, sociais, culturais, educativos, escolares inclusos, escoteiros, pessoas de terceira idade, deficientes físicos.
A visitação dos museus segundo a autora do livro depende de quatro fatores principais:
- a categoria sócio-profissional: as classe superiores constituem quase sozinha o público dos museus;
- a idade: a freqüência é máxima para as turmas de jovens estudantes, universitários;
- a renda: gera o lazer e possibilita o turismo cultural, arrastando para os museus, nos roteiros de férias, um público que os visita raramente em seus locais de trabalho;
- o nível de instrução e o sexo: que resumem e explicam os fatores anteriores, as mulheres com nível superior vão duas vezes mais ao museu do que os homens portadores do mesmo diploma.
A obra de arte existe como tal unicamente para os que detêm os meios de decifrá-la, conseqüência do nível educacional, outros códigos nas classes populares integram a obra segundo suas qualidades expressivas, técnicas, a antiguidade, critérios decisivos que afastam totalmente esse público da arte moderna e contemporânea.
Inicia-se uma nota etapa dos museus: nesse novo museu transformado em local de encontro de informações e intercâmbio, as coleções tornam-se o elo vivo entre as diferentes categorias de visitantes, expresso por diferentes formas de expressão.
Na raiz de todos os problemas do ser humano encontra-se uma ausência total de interesse que não seja por nossa própria sobrevivência. De que servem todos os remédios propostos para conservar a história das civilizações ou para manter a cultura se o home é totalmente indiferente? se o fato de educar não forma pessoas interessadas pelo que se passa em volta delas durante sua única vida, então a educação é, antes de tudo um fracasso.
Os museus são os maiores laboratórios disponíveis para estudar a forma pela qual ser despertado o interesse e que esse problema é essencial ano nosso desejo de sobreviver enquanto seres humanos.